quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Um homem simples X


Era o fim da linha, havia apenas tempo para mais um suspiro. Pensara em sua vida toda e tudo fazia sentido naquele momento, tal qual um puzzle que acabara de ser completo pela derradeira peça.

O vazio que era parte inalienável de sua alma ia desaparecendo à medida que o ar entrava em seus plumões, e por frações de segundo não havia dor, somente uma satisfação imensa. Sentia-se tal qual um balão que repleto de ar quente levanta voo e toma os céus em liberdade.

Eram tantas lembranças, que sentia diferente gostos e perfumes, sendo capaz de reconhecer um a um: desde o bolo de fubá da sua infância até a aguardente que tomara minutos atrás.

Seus olhos eram incapazes de diferenciar a realidade da lembrança, era como estar em todos os lugares que já estivera no tempo de um vislumbre. Praias, campos e montanhas misturavam-se e formavam uma paisagem absolutamente singular.

Então o seu corpo estatelou-se no chão com um sorriso de missão cumprida nos lábios por ter feito o que todo homem simples deveria fazer: viver seus princípios e morrer sem princípio algum, dando o último suspiro com a mesma intensidade daquele primeiro que dera quando acabar de nascer, tão ansioso pelo que viria!