quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Um homem simples IX


O seu rosto aparecia estampado por toda a cidade, porém frente ao espelho não era capaz de se reconhecer.

Encarnava em todas as entrevistas que dava o típico sujeito realizado e parâmetro para a sociedade, mas tinha a certeza que tudo não passava de um véu que não demoraria a cair. Tanto fez por todos que esquecera de si próprio, e com a idade isso pesava-lhe.

Não tinha orgulho ou satisfação pelo que construiu mas era muito tarde para recomeçar ou ainda abdicar de seu passado.

As coisas, então, mudaram daí em diante. Ele adoeceu e durante meses afastou-se da vida profissional. Quando retornou a seu escritório encontrou toda a diretoria a sua espera, o clima era de velório e sobre sua mesa jazia a certidão de óbito: uma certidão de falência.

Mal havia sentado, levantou e de forma introspectiva gargalhou ensandecidamente. Aquele homem tão cheio de postura despiu-se de formalidades e carregando apenas a imensa sensação de liberdade que sentia, entrou em seu carro e dirigiu sem rumo por dias, até que Deus, segundo alguns concedeu-lhe as férias que tanto merecia, num lugar aonde ele teria a eternidade para cuidar de si mesmo.