terça-feira, 28 de julho de 2009

Um homem simples IV


Nasceu numa quarta feira. Dizem que é um bom dia para nascer, já que a rotina da semana alcança seu cume de monotonia as quartas. Chovia tanto que os médicos afirmavam que se uma emergência ocorresse durante o parto, seria impossível disponibilizar uma ambulância para uma transferência emergencial.

Nasceu em meio a uma tormenta! Trovejava, como se o Deus Thor castigasse a cidade. E tamanha foi a tempestade que a maternidade estremecia a cada pancada vinda do céu. No quarto onde sua mãe encontrava-se os raios eram confundidos com os flashes da câmera de seu pai. E antes de cada foto, especulava-se sobre o seu nome. Eram mais de vinte opções -nenhuma que mesmo hoje agradava-lhe-.

Já devidamente registrado carregando o fardo da tradição familiar em seu sobrenome, adaptou-se à forma que foi chamado. Não revela seu nome, pois o nome é a síntese da pessoa, e a síntese é tão parcial que esconde a magia do que é real.

A chuva que precedeu seu nascimento, como um sinal passou a persegui-lo, e todos os acontecimentos significantes de sua vida tiveram a tempestades como background. O primeiro dia na escola: molhado dos pés à cabeça; A formatura do jardim de infância: ensopado; O primeiro beijo...

Lembra- se pouco do ocorrido, apenas que chovia. E como chovia! Mas por um momento não se importou: Haviam sensações mais intensas tocando sua pele do que gotas geladas que caiam incessantemente.

Sentiu seus lábios úmidos, e não era o mau tempo que os deixara assim. O vento que soprara, encontrava os braços dela que lhe envolviam e protegiam.. Não sentia mais frio, nem calor, não sentia mais nada, apenas uma vontade insaciável de saber ao menos o nome daquela garota, que trazida pelo temporal foi-se com o vento que de tão afiado cortou o seu coração.

E naquele momento nada poder-se-ia dizer, apenas que se ambos soubessem seus respectivos nomes, seriam um detalhe, e não uma tão misteriosa quanto doce lembrança que marcaria todo o resto de sua vida também anônima.