sexta-feira, 24 de julho de 2009

Um homem simples III


Para ele era difícil desaparecer. Não como Houdini, ou Elvis Presley, mas sumir do imaginário popular. Não era uma figura cativante, muito menos algum tipo de celebridade. Mas um homem cheio de histórias.

Cada memória era narrada com tamanho entusiasmo, que, para alguns era descrito como mentiroso e para outros era uma espécie de profeta que dissertava sobre o mundo através de parábolas.

Falava sozinho enquanto caminhava, tal qual um filósofo peripatético, despertando a curiosidade daqueles que se deparavam com aquela cena um tanto quanto tétrica. Ao final de cada conto, a expressão em sua platéia era unanime. Todos aqueles que ouviram-o, não se esqueciam jamais. Suas historias eram retratos de uma realidade, que embora distorcida, era parte do que todos podiam ver, tocar e mesmo experimentar.
Mas, ser protagonista era diferente de ser ouvinte, o que diferenciava a realidade vivida daquilo que aquele homem misterioso contara, era a forma que as narrativas eram expressas. Ele fazia o comum se tornar especial, o monótono metamorfosear-se em deslumbre .

Um dia, calou-se. E a medida que sua voz sumiu, foi-se junto a sua alma.
Perguntavam-se como era possível ter vivido tanto, ou ter tamanha imaginação. Escritor, dramaturgo ou roteirista algum seria capaz de redigir um roteiro tão preciso e verossimilhante, e particularmente creio nunca poderão, pois não é possível parafrasear a vida.
O que tornava-o mágico, era que viva cada palavra dita com tamanha intensidade, que não desvencilhava o delírio do real.